Escrever sempre foi a minha única saída. E também, porta de entrada. Só pode dizer que me conhece quem já me leu. Quantas fases haveria em mim? Muito mais que as quatro faces da lua, suponho. Há dias em que acordo nova, cresço, mínguo e como um clarão de hastes prateadas peço licença a Odoyá pra ser cheia em seu imenso mar. 
Porque, de fato, é na natureza de ser e estar que expresso o sentir. E há muito sentido em cada sentimento.  Palavras transbordam como água de cachoeira. Uma vez dentro dela, gela, mas também aquece. Só quem trilhou o caminho do amor haverá de reconhecer. O rio já não retorna quando vem a ser mar. A existência não permite voltar. Uma vez que se torna oceano, o sal, as ondas, sobressaltam, não obedecem mais a um curso. É imensidão, é maré que se quebra e invade a praia.
Ano passado tomei chá de Jurema, uma planta considerada de poder pelos indígenas. Quando a mata incendeia, como ocorre agora no Pantanal, significa que o fogo está devastando o nosso interior. O que acontece no externo, reflete o interno. Na prática primitiva da agricultura, a queimada antecede o plantio, é uma preparação, uma limpeza. O fogo é o único elemento que não pode ser contido em nenhum recipiente.
A cabocla Jurema, sábia, anciã, quando nos acessa, é como fogo. Primeiro ela vai varrer todo o organismo e mostrar onde estão as mazelas. Só quem está pronto para ouvir as verdades, aguenta. Depois, todos os sentidos são ampliados: visão, audição, paladar e tato. Em mim, eu sentia algo como sendo dez vezes ampliado. E neste ritual, há preparo. Deve-se saber o porquê de querer tomar uma planta de poder, pois ela irá responder a tudo que você perguntar.
Como uma questionadora nata, eu sabia exatamente onde gostaria de chegar, caso fosse permitido. É preciso muito respeito, confiança e silêncio. Depois de todas as sensações físicas, encontrei o meu deserto. Naquele estado, de não mente, unicamente espiritual, fui caminhando para uma tenda dourada onde me encontraria com meu guia espiritual. “Você esperava uma mãe aqui não era?”, e ria de forma descontraída, meu Pai Oxalá.
Eu comecei a rir também e ali entendi tudo, porque ELE tem o feminino e masculino divinamente equilibrados. É risonho, assim como eu, e profundamente destemido. Naquela tenda no meio do meu deserto eu encontrava Pai e Mãe em um nível de energia tão elevado que minhas palavras aqui não poderiam traduzir. Ele veio a confirmar minha missão de vida e trabalhou três mantras comigo, cuja repetição se dá até os dias de hoje, nos meus momentos de oração e recolhimento. A oportunidade dessa existência veio para que eu desenvolvesse minha escrita contribuindo para os movimentos evolutivos.
Muitos, aqui encarnados nesta era, vieram com este dever de casa. Somos muitos curadores, cada um em sua seara de ofícios. Um dos mantras que trago é: “quem lê o que eu escrevo, se liberta”. Porque a maioria das leituras e escritas que exerço, têm esta frente. Desde criança sou leitora. E desde outras existências, escrevo, sou em essência, comunicadora. Não teria como fugir do que me foi confiado. E há sinais explícitos das nossas missões. Se a gente começa a observar, sem ser absorvido, vai montando um verdadeiro quebra-cabeças.
Quem é regido por Oxalá tem essas características da racionalidade desenvolvida (masculina) e amorosidade notória (o feminino). Através da sagrada Jurema houve outras descobertas. Tive acesso a memórias de quando tinha cerca de quatro anos de idade. Eu perguntava porque tinha medo de determinadas coisas e ela me apresentava uma cena remota que vivi na infância e fazia jus àquele trauma. Esta é uma jornada completamente pessoal, não estou recomendando a ninguém a fazer o mesmo. Aqui é um relato de expansão da consciência (via encontrar o inconsciente) que se deu com esta vivência.
Na comunidade juremeira não há relatos de pessoas com alzheimer, nem depressão, tampouco viciadas em drogas (inclusive a Jurema trata dependentes químicos), ou com doenças associadas à mente. Uma vez que ela ingressa no corpo um novo patamar de autoconhecimento se instala. Tive crise de pânico na adolescência e ela me mostrou em quais mecanismos e fragilidades posso voltar a ter. Agora está sob controle.
A xamã Andiara Leão me contou que tudo o que uma planta de poder acessa irá expandir. De bom ou ruim. Será uma verdade a ser revelada e esteja pronto para lidar com as consequências. 2020, ano regido pelo astro sol e pelo orixá da Justiça, Xangô, cobra de todos nós um mergulho no autoconhecimento. É assumir com todas as forças, como diz a música de Caetano “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
E essa presença que pessoa traz, ora luz do sol, ora luz de treva, faz parte de um plano evolutivo maior. Se eu não gostar do que venho recebendo da vida, é preciso estar atento onde ando emitindo a mesma coisa. A existência é abundante e lindamente justa. Não há vítimas neste plano terreno. E neste papel tão singular que exercemos na convivência uns com os outros, que possamos expressar cada vez mais a nossa luz de bondade. E não hesitemos, assim como Jesus nos sinaliza, quando diz que veio trazer a espada.
Acho engraçado quando romantizam uma persona como Jesus, forte e dócil ao mesmo tempo. Muitos religiosos pregam uma santidade que está passando a mão na cabeça de quem não quer crescer. Ser puramente luz ainda tá bem distante do nosso meio altamente político. Como diz Osho, “até no amor existe política”. Mas nos esforcemos em trabalhar mais na luz. Porque, em verdade, iluminar segue mais a linha de ser responsável com o que digo, falo e exerço quando me conheço, do que imaginar ser figura de luz transcendente achando que posso controlar situações. Isso é o que as religiões fazem para usufruir poder. Ser luz tem mais a ver em descortinar as nossas próprias sombras e, assim, ser mais útil e feliz com a nossa essência. Por fim, Carl Jung diz que “ninguém se ilumina imaginando figuras de luz, mas se conscientizando da escuridão”.

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