Entrevista: Lúcio Flávio Rocha

Lúcio Flávio defende o fim da esquerda no comando capital sergipana e aposta na “maioria silenciosa da população conservadora”

Ele tem 41 anos, é empresário, formado pela Unit e pós-graduado pela UFS nas áreas de comunicação e gestão de marketing, respectivamente. É pai de dois filhos que são frutos de um casamento com uma aracajuana que nasceu no mesmo dia, mês e ano que ele. “Eu e minha esposa somos gêmeos de barrigas diferentes”, brinca o empresário que também é Coordenador Nacional do maior e mais respeitado grupo político de direita do país, o Brasil200, que tem em sua formação uma grande predominância de lideranças empresariais, políticas e religiosas sem vinculação partidária.

Evangélico, frequentador da igreja Verbo da Vida, Lúcio Flávio é defensor de bandeiras ligadas aos valores morais conservadores como a defesa da vida intrauterina, da família, dos valores judaico-cristãos, assim como os seus amigos famosos, a ministra Damares Alves e o ex-senador da República Magno Malta, pessoas que ele tem como referência.

Lúcio Flávio, que nesta pandemia esteve fazendo incursões às ruas, distribuindo refeições para desabrigados e cestas básicas para instituições de caridade, deflagrou em seu grupamento uma campanha de outdoors em apoio ao presidente Bolsonaro. Além disto, moveu uma ação judicial contra o prefeito Edvaldo Nogueira, em defesa da reabertura do comércio, dos salões de beleza, das academias e das igrejas.

Descubra o que pensa este novo nome da política, nesta entrevista exclusiva do CinformOnline

Cinform on line: Você se tornou coordenador nacional do mais respeitado grupo de direita do país. Como você começou a atuar nestes movimentos?

Comecei a estudar a política com mais profundidade em 2010, a partir da primeira eleição da Dilma, mas foi na segunda eleição dela que a minha participação tornou-se mais ativa. Foi tudo muito rápido. Nos movimentos de rua pró-impeachment eu já estava integrado aos líderes e a sala de reuniões de minha empresa transformou-se em um verdadeiro “QG” para organizar as ações. Naquela época, ser de direita ou conservador era muito diferente de hoje. Nos reuníamos praticamente escondidos. Foi quando a Dilma caiu e passei a acompanhar os passos do empresário Flávio Rocha, da Riachuelo. Assim que ele fundou o Brasil200, nós combinamos a formação do núcleo aqui no estado. Sergipe foi o primeiro núcleo estadual formado após São Paulo, e se tornou um case de sucesso. Isto me credenciou para replicar a fórmula em outros estados. O atual presidente do Instituto formado por voluntários é o meu amigo Grabriel Kanner, sobrinho do fundador.

O grupamento do Brasil200 tornou-se uma referência nas discussões das pautas políticas do país, assim como ocorreu na reforma da previdência. A que você credita todo este reconhecimento?

Eu credito toda essa boa reputação ao DNA dos fundadores deste grupo. O Brasil200 foi formado por empresários sérios, os maiores do país, homens e mulheres que geram milhares de empregos e milhões em impostos. Não tinha como ser diferente. Não se tratava de mais um grupo de whatsapp ou página na internet. Nascia ali um grupo verdadeiramente interessado em pavimentar um novo futuro para o país. Empresários saíram da moita e passaram a pautar e influenciar o debate político. Nosso grupo senta com presidente, com vice-presidente, com ministros, com parlamentares de todas as esferas e já nos reunimos até com a primeira-dama, que atua no projeto Pátria Voluntária, que organiza voluntários de ações sociais ao longo de todo o território nacional. Já fizemos até sabatina entre candidatos na última eleição. Na reforma da previdência, por exemplo, nos somamos com a líder do Governo no Congresso, à época, para visitar diversos estados com o objetivo de conseguir virar votos para aprovação. Nosso grupo foi fundamental para aprovar a reforma tida como improvável. Lançamos o Empregue+1 no primeiro mês do Governo Bolsonaro e agora estamos alinhados em pautas sociais com o Ministério de Direitos Humanos, junto à ministra Damares Alves. Estamos neste momento lançando a nossa primeira turma de formação político-ideológica para candidatos às próximas eleições e para os seus assessores. Um dos nossos instrutores será o jornalista Lacombe. Nossa próxima pauta será a defesa de um modelo da reforma tributária chamada de imposto único ou e-tax.

Em Sergipe, o Brasil200 ajudou na organização da campanha de Bolsonaro, apoiando o partido do candidato à época, o PSL. Quais ações foram feitas?

Nosso grupamento aderiu voluntariamente à campanha de Bolsonaro. Tudo que temos como princípio estava visível na campanha dele: Deus, família, liberdade, patriotismo. Por isto foi muito fácil entrar com força através dos nossos apoiadores para ajudar o partido à época. Havia muita gente disposta a participar ativamente das ações. O diretório estadual estava fazendo um excelente trabalho, eram incansáveis, mas estava rachado e fragilizado por conta de divergências entre as lideranças. Era normal os ânimos exaltados dada a tensão da disputa. O país inteiro estava numa imensa expectativa e em Sergipe não foi diferente. Um grupo antigo de jovens de direita também foi bastante importante para ajudar na mobilização em todo o estado, da capital ao interior. Foi tudo feito à quatro mãos, de forma voluntária e espontânea. Foram diversas iniciativas, como por exemplo: uma casa de encontro dos apoiadores voluntários, reuniões com lideranças de Sergipe, sem falar no apoio às inúmeras carreatas que o partido organizou. Os apoiadores de Bolsonaro lotaram as ruas de Aracaju por mais de uma vez com seu mar de carros e trios elétricos. Chegamos a contar com a presença do Magno Malta e o José Medeiros por aqui, que à época eram senadores. Quem também veio foi a Damares, que era assessora do Magno. Foi então que finalmente conseguimos eleger, juntos, um presidente genuinamente conservador.

É verdade que foi por conta destas iniciativas que você foi convidado pelo então senador Magno Malta para ir à casa do Bolsonaro? Como foi esta experiência?

A experiência de estar na casa do meu candidato à presidência da república, no meio da efervescência entre o primeiro e segundo turno, foi impagável e inesquecível. Passamos quase todo o dia na casa dele, num entra e sai enorme de autoridades e imprensa. Ele estava sempre solícito, mas bastante atento, colocando ordem na casa. Seus filhos se revezavam sempre ao redor, inclusive a Laurinha, e seus fiéis escudeiros Ônix e Magno, estavam sempre por perto monitorando tudo. Os telefones não paravam e a tensão na casa era muito grande. Estávamos com um grupo de empresários do Brasil200 da Bahia que queria explicar o nosso projeto Empregue+1 diretamente ao Bolsonaro. Mas pra mim, o ponto alto do encontro foi quando eu pedi a oportunidade para fazermos uma oração por ele e pelo Magno Malta. Foi realmente emocionante.

E qual o resultado prático deste apoio de vocês? Funcionou?

O resultado do trabalho dos chamados Bolsonaristas de Sergipe, não apenas do Brasil200, mas de alguns outros grupos também, foi uma expressiva votação de frente que juntos entregamos ao presidente no primeiro turno. Bolsonaro largou com quase 120 mil votos, ou seja, quase 40% dos eleitores, contra 85 mil votos do Haddad. Considero este número um marco histórico para um estado como o nosso, que tinha predominância de esquerda. A diferença foi grande. No segundo turno percebemos que conseguimos ganhar mais 20 mil eleitores, cravando quase 140 mil votos. O candidato do PT até conseguiu herdar mais votos de outros candidatos, mas perceba que não foram eleitores naturais ou diretos. Foram votos por exclusão. Os números do primeiro turno nos dizem muita coisa. Há diversas informações preciosas nestas entrelinhas. Sem falar que Bolsonaro aumentou recentemente a sua base de apoio, alcançando uma grande faixa da população mais humilde, por conta dos R$ 600,00 de auxílio na pandemia. Este número cresceu muito.

Estas entrelinhas dos números tem algo a ver com o potencial eleitoral deste grupo?

R- Sim. Tudo a ver. Estou convicto de quatro coisas nas eleições para prefeito de Aracaju. A primeira convicção é que Bolsonaro está sem representante legítimo dentre os candidatos postos à mesa em Aracaju. Os eleitores de Bolsonaro não se identificaram com nenhum dos nomes que se apresentaram como pré-candidatos. A segunda convicção é que, depois de Dória, Witzel, Frota, os eleitores de Bolsonaro em Aracaju estão bastante reticentes e desconfiados por conta do sentimento de traição relacionado inclusive à Alessandro Vieira, que é a maior decepção eleitoral de Sergipe na atualidade. A expressiva rejeição a Alessandro é o que se chama na justiça eleitoral de “vício insanável”. A terceira convicção é que, dada a força que se percebeu dos eleitores de Bolsonaro nas urnas de Aracaju em 2018 e no engajamento da população em defesa do Governo Federal em iniciativas recentes, a exemplo das manifestações e das campanhas de outdoor por aqui, tenho certeza que o presidente da república tenha plenas condições de apontar o dono de uma das vagas do segundo turno por aqui. A quarta e última convicção que tenho é que, infelizmente, acredito que a outra vaga do segundo turno permaneça na esquerda, sendo de Edvaldo Nogueira ou de Márcio Macedo, a depender do estrago que a investigação do hospital de campanha faça à imagem do prefeito e a depender do ímpeto do Lula e de sua filha para fazerem a campanha de Márcio Macedo. Tenho certeza que a esquerda não tem votos suficientes para levar os dois ao segundo turno, mas certamente levará um deles.

E por falar em hospital de campanha, o que você acha da investigação?

Obviamente não serei precipitado ao acusar, da mesma forma que achei completamente descabidas as menções de apoio recebidas pelo prefeito por autoridades políticas do estado. Achei constrangedor e de uma “forçação de barra” incrível. Certamente uma contrapartida exigida pelo marqueteiro de Edvaldo para tentar apagar o incêndio, operando na chamada “gestão de crise de imagem” criando uma sensação artificial ou falsa de que está tudo bem e que o acusado é uma vítima perseguida. Nada mais fake do que isto. É óbvio que não está tudo bem e que a ação não colou. O preço de certas alianças é caro e a fatura às vezes é amarga, por isto estes todos receberam ligações e convocações do gabinete do prefeito para cobrar a contrapartida. Aquele apoio “espontâneo” e “voluntário”, sabe? Viu quantos vereadores assinaram a cartinha do “beija mão”? Quase a câmara toda assinou sem sequer terem informações aprofundadas sobre o teor da investigação. Assinaram um cheque em branco em favor de Edvaldo. Apressados em abafar a história. Os eleitores deles deveriam perguntar a cada um: a troco que quê? Isto nos lembra bastante os defensores cegos do Lula Livre. Será que se o desfecho chegar à prisão dos acusados, teremos gritos “Edvaldo Livre”? Não há nada que esteja oculto que não seja revelado, diz a Bíblia Sagrada.

E quanto aos outdoors que seu grupo fez, já viu que muitos foram vandalizados com tintas?

Sim, já vi. E adivinhe qual a cor das tintas? Vermelha, é claro. Igual a cor que o Edvaldo quer colocar no terminal de ônibus do mercado. A pergunta é: existe a cor vermelha na bandeira de Aracaju? Aqueles que nos chamam de intolerantes são os mesmos que não suportam ouvir a opinião contrária. Um certo sindicato chega ao ponto de fazer outdoors horríveis agredindo a imagem de nosso presidente, mas nós só fizemos uma mensagem de apoio. Eles não suportam ver as palavras Deus, Família, Liberdade sendo divulgadas e defendidas aos quatro cantos. Dá comichão nos ouvidos deles. Babam e rosnam. Estas pessoas devem sofrer tanto. Haja tarja preta. Não vandalizaremos os outdoors deles, mas encaminhamos denúncia à AGU em Brasília, que é quem cuida da imagem pública do presidente da república deste país. A pergunta que faço é: Faz parte do escopo de atuação de um sindicato de educadores agredir a imagem do presidente? É isto que fazem com o dinheiro do trabalhador da educação? Que exemplo!

O seu grupo impetrou uma ação na justiça pela reabertura do comércio. Quais as razões e como anda a ação?

Sim. Nós entramos com uma ação popular que teria cerca de três autores, apenas os líderes do Brasil200, mas, depois de divulgada pela imprensa, passou a ter mais de trinta pessoas participantes. E só não tivemos mais pessoas por conta de diversas documentações que chegaram incompletas. Assinaram a ação conosco: líderes empresariais, autônomos, advogados, funcionários públicos, delegados, trabalhadores, pastores e até aposentados. Nosso pedido foi a imediata reabertura de comércios, salões de beleza, academias e igrejas. Nós entendemos que ninguém pode ser proibido de lutar pela própria sobrevivência e pela subsistência de sua família. Estamos em um estado em que o poder público fecha igrejas e abre motéis. Um absurdo. Além disto, fizemos o pedido para que o prefeito repare todos os danos causados ao município. O Juiz da 12 vara cível intimou a Prefeitura a se manifestar e, adivinhe, as argumentações da defesa de Edvaldo confirmaram as nossas acusações. Na própria peça de defesa eles confirmaram que, se fechassem comércios, teriam que prover o sustento dos comerciantes. Mas eles não sustentaram ninguém. Diante de tanto totalitarismo e desumanidade destes decretos, enviamos também uma cópia da nossa ação para o Governo Federal sob forma de denúncia de violação aos direitos humanos. Quero fazer apenas o registro de honra, reconhecendo o nome do nosso advogado desta ação, o brilhante Dr. José Paulo Leão, um grande e ferrenho defensor de nossas liberdades e da nossa fé. Tenho aprendido muito com ele.

Além desta ação pela reabertura do comércio, você também travou um debate com o senador Alessandro Vieira sobre o projeto de regulação da internet. Você mudou de opinião quanto ao senador?

Na verdade eu não considero que mudei de opinião. Na verdade eu mantenho minhas convicções mas o senador claramente mudou de lado e agora se apresenta como oposição ao grupo que o elegeu. O Brasil200 continua mantendo-se coerente ao que sempre pregou e defendeu. Veja como são as coisas: O senador Alessandro Vieira foi aprovado pelo Renova.Br mas foi reprovado pela Sabatina do Brasil200. Mesmo assim ele nos procurou, pedindo apoio e se comprometendo a defender as nossas pautas. Eu particularmente fiz campanha e pedi votos pra ele. Infelizmente ele não cumpriu o compromisso conosco e tem se mostrado uma profunda decepção, além de mostrar que tem uma grande dificuldade de ouvir opiniões diferentes das dele. Alessandro mostra-se um senador inflexível que não quer dar ouvidos aos seus eleitores. Tem costumeiramente bloqueado comentários e pessoas que o seguem, nas redes sociais. Além de uma clara fixação de ficar criticando o Bolsonaro o tempo todo, Alessandro agora está aficionado neste projeto completamente descabido de fiscalizar a internet, uma idéia sem noção que não existe em lugar nenhum do mundo. Logo ele que se elegeu com a força das redes sociais, quer agora limitar seu uso para os outros. Lamentável.

E quanto aos recados que você mandou aos jornalistas David Leite e Rita Oliveira? Você se sentiu ofendido?

Quando eu vejo jornalistas do nosso estado ofender conservadores chamando-nos pejorativamente de “manada” ou até de “lunáticos”, como foram nestes dois casos, não dá para fazer vista grossa, não é? Não vou responder no mesmo baixo nível, mas encontrarão em mim um contraponto. A velha política rasteira e odiosa de ofensas deveria ser sepultada das eleições há muito tempo. Não vou silenciar enquanto tentarem intimidar a quem tem opinião contrária. Eu não acho que ninguém seja obrigado a concordar com meus princípios, mas que pelo menos os respeite. Nenhuma ofensa ficará sem resposta. Terão meu respeito, mas não o meu silêncio. Isto é uma questão mínima de justiça.

Você e a Ministra Damares Alves mantêm afinidades em muitas pautas. Como vocês se conheceram?

Conheci a Damares bem antes dela ser ministra, em uma das suas peregrinações por aqui, quando eu sonhava em amparar mulheres que passavam por uma gravidez inesperada, com o objetivo de tentar evitar que estas mamães abortassem ou perdessem seus bebês. Era apenas uma idéia que eu sequer sabia como fazer. Foi quando fui convidado para assistir a uma palestra desta guerreira aqui em Aracaju, organizada pelo Pastor Antônio dos Santos. Fiquei completamente encantado com a luta da Damares em favor de crianças, jovens, índios, mulheres, bebês, cristãos. Trocamos nossos números de telefones e daquele dia em diante comecei a me conectar com a rede de contatos de pessoas de bem que ela tinha. Através dela e de meu pastor, comecei a me aproximar de pessoas incríveis como o próprio Pastor Antônio dos Santos, Pastor Ari, Pastor Valdemar, dr. José Paulo Leão e o Davi Calazans. Foi aí que fiz treinamentos junto ao Centro de Restauração para a Vida, o CERVI, tanto em São Paulo como em Brasília, e comecei o trabalho de doação de fraldinhas descartáveis para gestantes em condição de vulnerabilidade. Foi através do Davi que também conheci a cantora Zezé Luz e a Sara Winter, uma ex-feminista que se transformou em militante pró-vida, que foi recentemente presa por conta de suas opiniões duras sobre o STF.

A pergunta que não quer calar é: Você participará das eleições municipais deste ano como pré-candidato ou como apoiador?

Tenho sido perguntado sobre isto por muitas pessoas. Tem saído diversas notas na imprensa sobre esta especulação com meu nome. Reconheço que fizemos um trabalho brilhante ao longo de todo este tempo. São dez anos de atuação político-ideológica que me renderam respeito, credibilidade e muita amizade. E o fiz durante todo este tempo de forma independente, sem nenhuma vinculação partidária, sem nunca ter concorrido a eleições. Pela primeira vez, por orientação de amigos no Governo Federal, me filiei a um partido aqui em Aracaju e me coloquei aberto para o diálogo. Quem me conhece de perto sabe das minhas bandeiras, do que defendo, que não são bandeiras eleitorais, mas de toda uma vida. Tenho conversado com muitos partidos e lideranças que participarão do pleito deste ano. O nosso time quer participar e tem me cobrado muito isto. Acho que o Brasil200 terá um papel fundamental nestas eleições, assim como teve em 2018. Estou pronto para disputar as eleições e meu nome está à disposição, sim, como pré-candidato. Por que não? Certamente não nos omitiremos de nossa responsabilidade, seja qual for o meu papel. Mas fiquem certos que não negociaremos em nenhuma hipótese os nossos valores.

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