Você já fez dieta ou algum programa de reeducação alimentar? Para quem já teve essa experiência, sabe que o sucesso deste processo só ocorre mediante disciplina. Vista por uns como vilã e por outros, como fundamental, a disciplina é a arte da constância, a persistência por um objetivo. No entanto, quando ingressamos em uma reeducação, é mais do que uma mudança temporária, trata-se de um novo mindset a ser implementado.
2020 é o nosso ano reeducacional, assim considero. Não há escolha sobre não mudar: vai ter que transformar. E a disciplina vem de mãos dadas com o pacote. Primeiro porque há um vírus solto na rua. E com perigo de morte ninguém brinca. Segundo porque hábitos e costumes estão sendo reformulados. Tanto por questões sanitárias, quanto por legislação imposta. 
Como num jogo de tabuleiro, várias etapas foram percorridas. E agora, com o arroz e feijão mais caros na mesa, estamos nos questionando sobre a nossa própria comida. Medo de adoecer, morrer, de enlouquecer preso em casa, ficar desempregado ou sem renda, e agora, de faltar o básico, que é a alimentação. Um teste gigantesco para a saúde mental e emocional. Questionei para meu ex-professor de Antropologia Digital, Fábio Mariano Borges, se seria possível diante de tudo que estamos vendo, um êxodo para o interior dos estados. Ele afirmou que sim, tendo infraestrutura (internet principalmente), isso é fatídico.
No estado vizinho, a procura por imóveis no interior dobrou de acordo com a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi). Com a possibilidade do home office, há mobilidade e liberdade residencial. Para quem pode: trabalha-se de onde quiser, basta estar conectado. A Roça Office vem ganhando adeptos principalmente na região da Chapada da Diamantina e Litoral Norte da Bahia. Há cerca de um ano acompanho a família @jardimdomundo. Eles são adeptos deste modelo de vida e lá do campo ensinam receitinhas livres de agrotóxico, pratos frescos, natureza viva, vida simples e calmaria.
Até modelos de construção de imóveis sustentáveis têm por lá. Fico encantada! Lembro muito do meu bisavô Neco, que faleceu com 104 anos (minha família é cheia de anciãos e logo mais explico o porquê). Todos os anos o fiscal do INSS fazia uma visitinha na casa do meu bisavô pra conferir se ele estava mesmo vivo. Encontrava-o na porta “lorotando”, contando piada, super lúcido e ainda batia nas costas do fiscal garantindo que podia continuar pagando a sua aposentadoria.
Meu vô Neco tinha uma casa onde metade da área era de horta. De tudo dava naquele quintal e era raro alguém da família comprar frutas, hortaliças ou ovos das galinhas que ele criava. Afirmo que a longevidade dele, desfrutando de boa saúde, deu-se por dois fatores: alimentação in natura, que ele mesmo plantava, somada à genética extrovertida da minha família. Esquentar a cabeça pra quê? Cultivar a terra também tem seus benefícios terapêuticos. Eu nunca vi tamanha felicidade de alguém ser provedor doando espiga de milho, manga, bananas… 
Imagino agora Graciliano Ramos, autor do clássico Vidas Secas, narrando o retorno dos sertanejos ao sertão. “Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares”, está descrito no livro de Ramos. Nossa escola é a vida, que vai nos inserir dentro dos contextos que precisamos melhorar. Os recursos estão escassos. Os sentimentos, doloridos. E apenas diante da vulnerabilidade podemos, quiçá, nos curar de todas as fórmulas que nos foram impostas ao longo dos séculos.
Se olharmos com carinho este planeta abundante de espécies e riquezas naturais, nós construímos muros de pedras para nos dividir, segmentar. Nos isolamos em condomínios fechados porque o ser humano foi se tornando igualmente fechado. A confiança e autoconfiança foram abaladas. Estamos iniciando uma reeducação drástica, engenhosa. Ou mudamos para sermos dignos de estarmos nesta casa redonda azul, ou nos mudemos de mundo. Muitos já foram para “sete palmos abaixo do chão”, diria meu véio Neco. 
Neste plano de reeducação de 2020, que convencionou-se chamar de Novo Normal, a previsão é de vivermos etapas pandêmicas. O psiquiatra e escritor renomado Augusto Cury vem alertando em seus canais para a segunda epidemia que já vem ocorrendo: aumentos consideráveis de depressão e ansiedade. Os transtornos mentais já ocupam a 4ª posição das doenças mais incapacitantes do mundo pelo ranking da Organização Mundial de Saúde. Atrás apenas de câncer e doenças cardíacas. 
Então o reeducar tem iniciativa própria de empoderamento. É o nosso grito de independência. Somos tão únicos e genuínos. Quando a gente se respeita em profundidade o nível de afetamento alheio reduz. Já não se cria expectativas, desculpas e julgamentos. A responsabilidade pelo sentir, agir e pensar também é de cada um. Para se conhecer e ter autoconfiança, neste mundo que nos abriga, é preciso autocuidado. Não esperemos que alguém venha pôr curativo na nossa ferida. Mas quando se faz sem esperar o troco, a colheita chega. Não necessariamente pela mesma fonte, mas vem!
Numa disciplina de reeducação para autocuidado, há cinco pilares essenciais. Ao experimentar no que mais se sente bem, você se gratifica, se premia. São esses: autocuidado cognitivo, onde você pode ler, estudar, silenciar, pausar, aprender algo novo, ensinar e se organizar. No autocuidado social você pode pedir ajuda, ter relações saudáveis, desenvolver ações sociais, saber escutar, investir na comunicação, dar gargalhadas, ver alguém que sente saudades. Autocuidado físico é descansar, dormir bem, ter alimentação saudável, realizar atividade física, abraçar, fazer uma caminhada e contemplar algo belo. Já no autocuidado emocional pode-se exercitar o pensamento positivo, fazer terapia, se conhecer, agradecer, se perdoar, tentar de novo e aceitar o que sente. E por fim, no autocuidado espiritual, recomenda-se meditar, se conectar com a natureza, conhecer ou investir naquilo que você tem fé e acreditar, desde às pessoas que intui fazer valer voto de confiança e em si mesmo, para começo e fim de história. 

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