O Brasil está vivendo um dos piores, senão o pior momento da sua história e a impressão que tenho é que uma enorme escuridão impede a visão daqueles que têm o poder de decisão ao tempo em que o povo em geral nela se movimenta. Quando o vírus que nos ensombrece a alma apareceu na China ideias mirabolantes começaram a circular como se uma ideologia, trazida pelo vento, pudesse ser inoculada nas pessoas, transformando-as em seres não pensantes. Os casos começaram a aparecer em todos os lugares do mundo mas nós nos mantivemos indiferentes afinal “somos um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza” logo essa fúria viral seria amenizada graças aos nossos dotes tão especiais. Como a ciência é inexorável e confirmando todas as previsões que se faziam na comunidade científica internacional (felizmente a ciência hoje é uma rede de conhecimento disponível para a comunidade científica onde quer que ela esteja), o vírus chegou até aqui. Mas Deus é brasileiro, ele tem esse jeito meio malandro de ser por isso escolheu nascer aqui e portanto não permitiria que um vírus qualquer, “uma gripezinha” se imiscuísse nessa terra que em se plantando tudo dá. E dá mesmo, inclusive estupidez, ignorância e irresponsabilidade em esferas muito superiores.

O vírus chegou com a mesma força que atingiu todos os países do mundo e se agravou pela incompetência em tomar decisões baseadas nas ciências porque afinal somos um país rico em mezinhas herdadas dos povos primitivos que se curavam desses males, trazidos pela natureza aviltada em seus domínios, com chás e oferendas. Portanto vamos na contra mão da ciência prescrever o que os médicos no mundo inteiro já provavam ser ineficaz. Milhares de vidas foram dizimadas e uma segunda onda começa a surgir em países que aparentemente haviam vencido o mal. Mas também isso não nos deixou em estado de alerta e as estruturas preparadas na primeira onda foram desmontadas como se não houvesse amanhã. Afinal, o Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara haveria de nos proteger como cidadão local que é, estendendo os seus braços sobre todas as regiões do país, sem essa de exclusividade para o Rio de janeiro.

Manaus começou a implodir mas ali é um estado com características tão diversas, nesse país de tanto desequilíbrio, que não vale como alerta para que os outros estados reativassem os seus hospitais de campanha, preparassem leitos para os possíveis infectados, providenciasse oxigênio para não ter que pedir à Venezuela, esse país tão fragilizado. Tem que ser considerado sobretudo que as festas de final de ano estão chegando e comemorar é preciso. Por que negar a esse povo tão festeiro as alegrias dos seus réveillons? Amanhã pode ser outro dia. Mas não foi. Continuaram a aparecer os casos mas fevereiro tem carnaval e como não comemorar se é exatamente essa festa que dá identidade internacional ao nosso país? Como previsto pela ciência e por todos que a defende já que ela independe de crença ( você não precisa acreditar na lei da gravidade. Ela existe.) o caos reina soberano em nosso país. Foi cogitada uma cientista para o Ministério da Saúde mas não foi aprovada pelo titular da pasta que insiste na abertura ampla geral e irrestrita e coloca a vacina em segundo ou terceiro plano na contra mão do mundo civilizado. Continuamos assombrados diariamente pelos mortos. Um réquiem para o país do Carnaval.

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