Quase 600 crianças e adolescentes foram estupradas em SE desde 2016
O número de casos de assédio sexual e estupro, principalmente, de vulneráveis tem chamado a atenção no estado. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) obtidos pela equipe de reportagem do CINFORM, 595 crianças e adolescentes com até 14 anos de idade, entre meninos e meninas, foram estuprados no estado de Sergipe entre 2016 e julho desde ano. Ainda segundo a SSP, em 2018, já são 108 casos de estupro de vulneráveis notificados nas delegacias do estado.
No entanto, esse número pode ser ainda maior. Isso porque muitos casos de violência sexual deixam de ser notificados. Segundo a coordenadora do Serviço de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, a maioria dos agressores são conhecidos da vítima e, em muitos casos, fazem parte do seu círculo familiar (pai, padrasto, tio, primo). Em menos de um por cento dos casos os agressores são desconhecidos da vítima.
“Nós sabemos que há uma subnotificação dos casos que atendemos aqui na maternidade. As vezes o agressor é parceiro da mãe e que, às vezes, ela demora a acreditar. É difícil você denunciar e presta queixa contra um agressor que é seu conhecido. Além disso, em muitos casos, a fala dessa vítima é desvalorizada”, comenta Lourivânia Oliveira.
ACONTECEU DE NOVO
O último caso de violência sexual contra menores de idade foi registrado na última quinta-feira (30), quando um homem de 38 anos foi preso, no bairro Rosa Elze, em São Cristóvão, pela prática do crime de estupro de vulnerável contra três crianças, com idades entre 8 e 14 anos. Sendo que uma delas era sua sobrinha.
Segundo a delegada Annecley Figueiredo, da Delegacia de Atendimento à Criança e Adolescente Vítima (DEACAV), o suspeito demonstrava muito carinho pela sobrinha, dava muitos presentes e os familiares nunca desconfiaram de nada.
ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS
A Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, localizada na Avenida Tancredo Neves, é a principal referência para as vítimas de violência sexual tanta na capital quanto no resto do estado. Independente da sua idade, sexo ou do período de tempo em que foi abusada (o).
“O ideal é que a vítima de um abuso sexual seja atendida em até 72 horas, mesmo que ela não tenha passado por uma delegacia. É neste prazo que nós conseguimos realizar todas as medidas preventivas para evitar as doenças sexualmente transmissíveis, damos a pílula do dia seguinte, o coquetel retroviral do HIV e das hepatites”, explica Lourivânia.
Todas as vítimas são acompanhadas por seis meses ou até que recebam alta por uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, psicólogo, assistente social, enfermeiros e cirurgiões nos casos mais graves.
“A violência sexual é um trauma que pode deixar sequelas para toda uma vida se não for tratado. Para citar alguns exemplos: baixa autoestima, dificuldades de relacionamento, transtornos de ansiedade, depressão, obesidade, pensamentos suicidas, disfunções sexuais, entre tantas outras possibilidades”, comenta a psicóloga Camila Sousa.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA
No entanto, mesmo com o acompanhamento médico e psicológico, é fundamental que as vítimas procurem a delegacia mais próxima para prestarem o boletim de ocorrência. É somente com ele que, além de identificado, o seu agressor punido por uma pena que pode chegar a 15 anos de reclusão.
Isso porque, mesmo com o atendimento feito nas unidades básicas de saúde ou mesmo na MNSL, nenhum desses locais tem a capacidade de realizar perícias.
“Mesmo que essa vítima não venha com o boletim de ocorrência, nós fazemos o atendimento e as encaminhamos para as delegacias especializadas. Isso porque nós não somos peritos, isso é papel do Instituto Médico Legal, e a perícia é fundamental para ajudar a identificar esse agressor”, explica Lourivânia.
Além do Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) (Rua Itabaiana, 248), no centro de Aracaju, as vítimas de qualquer tipo de violência sexual podem se dirigir a qualquer outro núcleo do departamento nas cidades de Estância, Itabaiana, Lagarto e Nossa Senhora do Socorro.
No caso das vítimas menores de idade, o Conselho Tutelar é acionado de imediato, mesmo que ela esteja acompanhada dos genitores ou responsáveis legais, para que a proteção desse menor seja garantida. “Caso a criança ou adolescente ainda não tenha passado pela delegacia, é o Conselho Tutelar que vai encaminhá-la, tanto para a delegacia, IML ou mesmo o Ministério Público”, acrescenta Lourivânia Oliveira.
A psicóloga Camila Sousa alerta que as famílias devem ficar atentas a qualquer mudança brusca ou mesmo sutil de comportamento. “As pessoas próximas devem ficar atentas a qualquer mudança brusca (ou até mesmo sutil) da pessoa. Mostrar que se importa e se colocar à disposição para ouvir o que está acontecendo com ela, facilitando assim um desabafo. No caso de crianças e adolescentes, mesmo sendo apenas uma suspeita, estas podem ser levadas para atendimento no Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes”, alerta.