CINFORM conheceu dois venezuelanos que migraram para o Brasil
Deixar o seu país natal nem sempre é uma escolha fácil, mas, com a crise que atingiu nosso país vizinho nos últimos anos, essa se tornou a única esperança para muitos venezuelanos. Fome, hiperinflação, falta de produtos básicos e de segurança já fizeram com que aproximadamente 1,6 milhões de pessoas saíssem da Venezuela desde 2015, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM), das Nações Unidas (ONU).
Na última semana o CINFORM conheceu a história de Laura Vásquez e Andrés López, dois venezuelanos que desde janeiro deste ano estão no Brasil.
Laura conta que, antes do início da crise, ela conseguia manter a casa com seu salário e que seus três filhos estudavam e trabalhavam apenas para pagarem suas despesas pessoais. No entanto, quando a situação do país começou a piorar, eles quase não conseguiam comprar os mantimentos para a semana.
“A situação piorou por completo em 2015. A velocidade dos problemas aumentou nessa época. Em 2016 a situação era bem pior que em 2015 e é assim até hoje, um ano mais difícil que o outro”, lembra Andrés, um dos filhos de Laura.
Até mesmo comprar um saco de farinha para fazer o tradicional prato venezuelano – Arepa – se tornou difícil e até mesmo perigoso. “Antes de toda essa crise, eu comprava um saco de farinha sozinha. Depois, nós tínhamos que nos juntar para conseguir comprar. Eu colocava o saco na mala do meu carro, mas tinha que chegar muito rápido em casa porque se algum policial revistasse o meu carro – e eles faziam isso! – e encontrasse a farinha, além de perde-la, eu poderia ir presa”, comenta Laura.
VIDA NO BRASIL
Há nove meses no Brasil, Laura e Andrés, que atravessaram a fronteira por Pacaraima (PA), já conseguiram o visto temporário, que lhes garante dois anos como imigrantes legais com país com todos os direitos garantidos.
“Para o Brasil só viemos eu e o Andrés. Minha filha saiu da Venezuela em outubro e foi para a Alemanha. Meu terceiro filho ficou na Venezuela para terminar a graduação dele em Direito, mas ele também deve deixar o país”, comenta.
Desde que eles conseguiram a permissão da Polícia Federal para procurarem emprego, eles distribuíram seus currículos em várias lojas, mas sem muito sucesso.
Andrés, que estava no último ano da sua graduação para se tornar professor de Espanhol, hoje dá aulas de espanhol em uma escola pública da capital de forma voluntária e trabalha um dia por semana em um restaurante.
“Lá na Venezuela eu já estava fazendo estágio em uma escola. Então quando o diretor da escola me convidou para dar aulas de forma voluntária, eu pensei ‘por que não?’. Eu comecei com uma turma de alunos que manifestaram interesse e está sendo uma experiência muito legal”, comenta.
Já Laura, que além de três graduações na área da Comunicação, possui vários cursos de especialização em gestão de pessoas e em terapia de Heiki, faz massagens e terapias para conseguir se manter em Aracaju.
DIFERENÇAS
Mãe e filho contam que estão se adaptando pouco a pouco aos costumes e a comida local.
“Uma diferença que eu sempre vejo é o uso da farinha. Aqui colocam a farinha no prato, em cima da comida. Lá eu nunca tinha visto isso. Lá na Venezuela se usa a farinha para fazer uma comida”, comenta Andrés.
No entanto, uma das diferenças que mais surpreendeu mãe e filho foi com relação a educação no país. “No meu trabalho, eu cuidava de quase 80 jovens que tinham um posto na empresa como o jovem aprendiz aqui do Brasil. Muitos eram jovens de baixa renda, em que apenas uma pessoa da família trabalhava, mas a imensa maioria estava na escola. Às vezes tinham que faltar ao trabalho porque tinham que fazer fila para comprar algum alimento, mas todos se esforçavam para estudar”, comenta Laura.
“Lá na Venezuela, o normal é que as pessoas estudem, que tenham duas, três até quatro graduações, senão você não é ninguém”, acrescenta Andrés.